HISTÓRICO

No ano 2000, a UNIVALI através de um projeto do Curso de Letras do Campus de Itapema, o qual era dirigido pelo Professor Francisco Antônio dos Anjos, possibilitou que a Mestra Iara de Oliveira, juntamente com o jornalista André Gobbo estudassem a criação de uma Academia de Letras em Itapema.
Foram feitas as primeiras especulações e a possibilidade começou a ser viável quando ouvidos escritores e intelectuais locais ficou evidenciado o interesse e a participação dos mesmos.

Num primeiro momento os três membros articuladores do projeto Francisco, Iara e André, elencaram nomes, fizeram contatos, consultaram fontes, muniram-se de subsídios e só então iniciaram a montagem do projeto que se transformaria na Academia Itapemense de Letras. Em sucessivas reuniões foram esclarecidos os objetivos e as metas e os 14 membros fundadores foram tomando consciência da relevância histórica que teria a criação de uma Academia de Letras para o Município de Itapema.
O sonho se alicerçava e na tarde do primeiro dia de setembro do ano de 2000, na Academia Catarinense de Letras em Florianópolis ele tornou-se real quando tomaram posse os primeiros membros da nova Academia que nascia.
A posse oficial em Itapema aconteceu numa sessão solene na Câmara de Vereadores na noite de 14 de setembro com a presença de autoridades e convidados.

O primeiro presidente foi o jornalista André Gobbo que dirigiu a Associação nos dois primeiros anos com dedicação, competência e lealdade. Neste período inicial, diversas atividades culturais foram realizadas como projetos junto às escolas. Publicação de livros, concursos literários, representações importantes junto a outras instituições, parcerias com a Administração Municipal, sempre respeitando os objetivos e o Estatuto da Academia. Vencidas as dificuldades iniciais que ocorrem no que é novo, os Acadêmicos já mais amadurecidos assimilaram o afastamento definitivo de 3 membros e elegeram 5 novos escritores para enriquecer ainda mais e fortalecer os alicerces da jovem Academia. No dia 26 de outubro de 2002 foi eleita a nova e Segunda Diretoria que tomou posse na noite de 15 de novembro, tendo como Presidente a acadêmica Maria de Lourdes Cardoso Mallmann.
Nesta Gestão realizou-se o Primeiro Simpósio Sul Brasileiro reunindo em Itapema Academias de Santa Catarina, Paraná e do Rio Grande do Sul. Em 2004 foi eleita para exercer a Presidência a acadêmica Marleide Lonzetti Skovronski, que entregou o cargo em 2006 para a profª Ilda Helena César, onde novos escritores acresceram o quadro de intelectuais. Na gestão seguinte 2007 e 2008 assumiu a Presidência o acadêmico Pedro de Quadros Du Bois. Atualmente é Presidente a profª Maira Kelling Machado.
Os caminhos literários dessa pleíade de intelectuais se cruzam anualmente com novos companheiros e são enriquecidos pelos novos conhecimentos e estudos realizados. Hoje contamos com 19 membros efetivos e 3 membros correspondentes e acreditamos que os frutos de nosso trabalho já se fazem aparecer no interesse das novas gerações pela leitura e escrita, o que nos faz felizes e realizados pelo trabalho que a Academia se dispôs a realizar.

Acadêmica Maria de Lourdes Cardoso Mallmann
Cadeira n. 2 - Patrono -João de Cruz e Souza

sábado, 23 de julho de 2011

Nas Trincheiras Encontrei o meu Amor


O horror havia começado em 28 de julho de 1914, quando o Império Austro Húngaro declarou guerra a Sérvia. No front, o inferno havia se instaurado: tiros, explosões, gritos e homens amontoados feito ratos uns por cima dos outros dentro de estreitas trincheiras de um pouco menos de dois metros de profundidade. Pra quem não sabe, uma trincheira é um canal escavado na terra onde os soldados ficam abrigados. A dor e o desespero estavam estampados na cara pálida e suja daqueles que já foram bravos combatentes. Fracos, famintos e doentes, agora mal conseguem esperar pela hora de poder voltar pra casa. A vida dentro de uma trincheira não é nada fácil. Insetos, calor infernal alternado com frio extremo, lama, chuva, doenças! Você fica o dia todo enfiado dentro de uma vala, muitas vezes cheia de água ou lama, atirando em um soldado que esta dentro de outra vala a poucos metros de distancia atirando em você. Você não toma banho, não come bem, não dorme direito... Tem que estar sempre alerta, pois a qualquer momento uma bomba, granada ou cápsula de gás pode cair do seu lado!
     Quando o arquiduque Francisco Ferdinando foi assassinado eu estava em treinamento simulado no quartel, jamais imaginei que entraríamos em guerra ‘de verdade’ tão cedo. Mas fazer o quê, a política de alianças e os compromissos firmados junto a Tríplice Entente acabaram arrastando a Inglaterra para aquela que viria a ser conhecida como a Grande Guerra. Admito que quando cheguei aqui estava empolgado pois além de nunca ter viajado de trem, não imaginava que uma guerra de verdade era tão diferente do treinamento que tínhamos no quartel. Diferentemente do front, lá não existe a tensão causada pelo fato de sua vida estar em jogo! Quando desembarcamos e começamos a cavar nossas trincheiras eu e meus amigos tínhamos a ‘falsa’ certeza de que venceríamos essa guerra. Eles, que eram meus companheiros desde a época da escola, já estão todos mortos! O pior é que morreram ao meu lado e eu nem pude recolher seus corpos. Eles ainda estão lá, num misto de lama e restos humanos triturados no fundo de uma trincheira. Você tem ideia de como isso é traumatizante? Com certeza não! Quer tentar entender?
     Imagine seu melhor amigo e você numa guerra. Vocês estão com muito frio e fome, atolados até o joelho dentro de uma trincheira cheia de lama. De repente seu parceiro é atingido bem na cabeça! Seus miolos explodem ali do seu lado e você não pode se mexer, pois o mesmo soldado que atirou nele agora esta mirando em você. Essa situação pode se estender por dias, com você sem trocar de roupa ou pelo menos se secar, com muito frio, sem dormir e ao lado daquele cadáver que já foi seu melhor amigo. O pior é que depois de um tempo ele começa a apodrecer e a exalar aquele horrível ‘cheiro de morte’. Os vermes então devoram seus olhos e entram em sua cabeça pela cavidade do globo ocular para banquetear-se com os restos de seu cérebro. E você tem que esquecer disso tudo e se concentrar totalmente na trincheira inimiga, senão amanhã também poderá estar no cardápio dos vermes. Sua única chance de sair dali é se deitar e rastejar por cima daquela mistura de lama e restos de seu parceiro torcendo para que o inimigo não jogue uma granada. Será que você consegue entender a minha situação? Quando me alistei fizeram mil promessas juntamente com um lindo discurso sobre democracia, liberdade e segurança! Agora estou aqui, prestes a morrer enfiado numa guerra sem sentido!
     Com certeza na trincheira do inimigo a situação não é muito diferente. Ele deve estar passando por algo semelhante, senão pior do que eu. Ele tem tanto medo de mim, quanto eu tenho dele! A pilha de corpos dele não é tão diferente da minha. Aliás, ele... Não é assim tão diferente de mim! Um mero peão num jogo de xadrez... Governantes criam as guerras e quando elas explodem, eles se escondem em salas blindadas de onde ficam dando ordens. Em Tróia, quando Aquiles desafiou Menelau dizendo-lhe que "grande seria o rei que lutasse suas próprias batalhas" era disso que ele estava falando. Naquele instante ele deve ter percebido a mesma coisa que eu acabei de perceber: a história se lembra dos reis, generais e políticos ilustres... Quem realmente faz as coisas acontecerem ‘O Povo’ (soldados, vendedores, escravos, trabalhadores...) acabam esquecidos. Naquele momento Aquiles pode mudar sua situação e acabou entrando para a história das guerras como uma figura ilustre e determinada. E eu, o que posso fazer? Na trincheira inimiga há exatamente 37 soldados alemães armados com fuzis Mauser e granadas de mão esperando que eu me levante ou pelo menos revele minha localização dentro da minha trincheira.
     Fiquei ali, imóvel por muito tempo e depois de mais algumas horas de reflexão existencial, tive uma revelação! Eu que já havia andado pelos quatro cantos do mundo procurando, foi justamente numa trincheira, que encontrei... O meu amor! O meu verdadeiro e maior amor! Aquele que com certeza, não morreria, jamais! Nesse instante uma granada de mão cai bem ao meu lado, respirei fundo, sorri com satisfação e explodi tranquilo, pois havia descoberto que amava a PAZ. 

Por Alexandre Luiz Trombelli - Cadeira No. 19
(Historiador e Professor com Bacharelado e Licenciatura pela Universidade do Vale do Itajai - UNIVALI; Especialista com Docência no Ensino de História pela Faculdade AVANTIS/UNIASSELVI;)

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